A crise que eu tô vivendo é geracional?

Às vezes eu me pergunto se o que estou sentindo é só meu ou se é o sintoma de algo maior, algo que atravessa uma geração inteira.

Sinceramente, eu não sei. Mas começo a desconfiar que sim.

Os adultos que vieram antes de nós, mesmo com todas as contradições, tinham a vida mais ou menos desenhada, estudar, arrumar um emprego, casar, ter filhos, comprar um carro, um terreno, uma casa com muro alto e garagem. Era o combo do sucesso.

Claro, isso nunca foi acessível a todo mundo (tem o recorte de classe, de raça, de gênero), mas mesmo assim havia um modelo de vida que todo mundo entendia. E em alguma medida, seguia ou tentava seguir. Tinha um depois.

Hoje, o que a gente tem?

Um celular parcelado em 12 vezes. Terapia quando dá. Ansiedade encostada no ombro. Projetos engavetados. Amizades por áudio de 2 minutos ou mais. Trabalho demais e dinheiro de menos.

A gente não tem casa própria, não tem carro, não tem plano de longo prazo. Filho? Só se for planta ou pet. Nosso lazer é streaming. Nosso descanso é culpa. O futuro parece sempre suspenso. O bem mais caro que conseguimos comprar é obsolescência programada. E a estabilidade virou piada de mau gosto.

A real é que tá todo mundo meio perdido. E ainda assim, tentando parecer que tá tudo sob controle.

O mais doido é que, mesmo sem saber o que estamos fazendo, a gente tá servindo de referência pra uma geração que vem depois. Uma galera que nos vê como quem diz: “me ajuda a entender?” E a gente ali, pensando: “sobrinho, se eu soubesse…”

Como é que a gente vai guiar alguém se a gente também não sabe pra onde tá indo?

É estranho ser referência sem referência. É estranho tentar inventar o caminho enquanto anda.

É um sentimento estranho, viver num tempo onde quase tudo desmoronou, crises atrás de crises, genocídios televisionados, mas a planilha tá em dia, o post tá programado, não dá pra fingir que dá pra continuar como se nada estivesse acontecendo.

Tá todo mundo cansado.
Tá todo mundo tentando manter a cabeça fora d’água.
Tá todo mundo vendendo performance de estabilidade,

enquanto se pergunta, no fundo: “isso aqui vai dar em quê?”

Talvez a crise seja geracional, sim. Mas talvez seja muito mais do que isso. Talvez seja uma falência coletiva das estruturas que disseram que iam funcionar. E a gente precisa começar a olhar pra isso de verdade. Parar de romantizar o caos.

Parar de transformar tudo em resiliência, superação ou storytelling de LinkedIn.

Parar. Só parar.

Olhar.
Escutar.
Nomear.

Porque seguir fingindo que está tudo bem… é exatamente o que nos adoece.

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